AS HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO QUE DÃO VIDA NOVA À CIDADE
Por trás de cada obra, jardim ou espaço público renovado em Maricá há diversas histórias de superação que envolvem os funcionários e prestadores de serviços da Prefeitura. Moradores de vários bairros já se acostumaram com a presença de Pessoas com Deficiência (PcD) entre as turmas da autarquia Serviços de Obras de Maricá (Somar), encarregada dessas obras. A Prefeitura tem como uma de suas políticas públicas de inclusão a contratação e integração, conforme preconiza a lei 8213/91.
Marcelo Siqueira, de 50 anos, trabalha na jardinagem na Orla das Amendoeiras, em São José do Imbassaí. Quem vê o sorriso estampado no rosto diariamente, não imagina que, aos 13 anos, um carro desgovernado o atropelou, o que custou a amputação de uma perna, mas não a vontade de viver. “Pelo contrário, ganhei ainda mais força para seguir em frente, enfrentar desafios e sempre quebrar barreiras. Já me disseram que não seria capaz, só que acredito em Deus e em mim mesmo”, relatou ele, casado há onze anos.
Após quatro anos desempregado e vivendo por pequenos serviços de jardinagem, Marcelo há dois meses passou a fazer parte da equipe de manutenção de uma das prestadoras de serviços da prefeitura. “Agora trabalho pertinho de casa. E, com muito orgulho, venho para cá todos os dias porque amo o que faço. Cuido desse espaço como se fosse minha casa e o carinho que tenho com meus companheiros de trabalho é o mesmo que tenho com a minha família”, destacou.
Com 30 anos, Michelle de Oliveira Gomes, gerencia administrativamente as equipes de obras que vão para as ruas, emprego que, para ela, é rico em significado. Em 2017, descobriu um câncer agressivo e raro num dos ossos da perna, na tíbia e após sessões de quimioterapia e cirurgia para colocação de uma prótese, está totalmente recuperada. “Tenho uma diferença de um centímetro se compararmos as duas pernas e consigo dobrar o joelho somente em 40 graus. Mas, isso não me impede de ter uma vida normal e trabalhar”.
Entre a descoberta da doença e a cura, foram sete meses de agonia e desesperança. “Nem os médicos acreditavam na minha recuperação. Eles não sabiam se iria responder a quimioterapia nem se teria sucesso na cirurgia. Então, posso me considerar um grande milagre”. Casada e com dois filhos, esse é o primeiro emprego após o tratamento. “Gratificante demais acordar cedo para vir trabalhar diariamente. Vocês não imaginam como é se sentir inválida e incapaz. Como é importante para mim me sentir útil e poder ajudar para o crescimento da cidade onde moro”, justificou.
A auxiliar administrativo, Karina da Silva Lima, de 22 anos, conhece bem esse sentimento de inutilidade. “É constrangedor observar os olhares das pessoas nas ruas. Mas, sou maior que isso e, hoje, com a força do meu trabalho, provo que sou totalmente capaz”, destacou a jovem que, em 2017, foi vítima de um acidente de moto que a deixou 45 dias internada com a necessidade de colocação de placa no fêmur, haste na fíbula e na tíbia.
“Tive minha perna esquerda totalmente reconstruída. Duvidei que um dia pudesse ter uma vida normal como tenho hoje. Sou muito grata”. Antes de atuar como uma funcionária a serviço da prefeitura, Karina trabalhou por sete meses numa empresa de varejo.
“Como tinha que subir e descer escadas, não tive condições de ficar lá e pedi para sair. Já tinha desistido quando apareceu essa oportunidade. Por isso, hoje valorizo muito essa vaga porque trabalho ativamente. A deficiência não deve ser vista como ineficiência, as atividades desenvolvidas e a produtividade podem ser iguais ou até mesmo superiores, tudo depende se a pessoa tem perfil, da dedicação, empenho e das condições de trabalho e inclusão oferecidas”, declarou.
Outra história de superação é a de Wellington Silva, o Jamaica, de 64 anos, contratado há três semanas para cuidar da manutenção da Orla das Amendoeiras. Gradativamente, desde 2012, ele foi perdendo a audição e, em 2017, não conseguia mais ouvir.
“Sem o aparelho sou totalmente surdo”. Criado em comunidade na Penha, aos 14 anos, Jamaica ficou órfão de pai e mãe. “Passei muito sufoco, muitos momentos difíceis, alguns, sem ter o que comer, mas nunca perdi a alegria. Busquei o caminho dos estudos e sempre amei samba, futebol e carnaval”, disse ele, que foi diretor de harmonia de escolas de samba como Portela, Mangueira e, campeão com a Estácio de Sá, em 1992, com o enredo “Paulicéia Desvairada – 70 anos de Modernismo” e, hoje está a frente da harmonia da GRES Flor de Imbassaí.
Wellington já faz planos para gastar seu primeiro salário, após seis anos sem emprego fixo. “Trabalhei como corretor de saúde, e quando fui demitido, comecei a trabalhar de forma autônoma e, desde então, vinha me mantendo aos trancos e barrancos. Ao longo dos anos, algumas dívidas foram acumulando. Então, sonho em poder quitá-las. Agradeço a Deus essa oportunidade de poder estar empregado e cuidar da terra nesse lugar que parece um paraíso”, destacou.
Para o presidente da Somar, Renato Machado, a contratação de pessoas com deficiência vai ao encontro dos valores da autarquia de inclusão social. “Nós enxergamos essas pessoas como qualificadas e estamos sempre abertos para buscar a sua inclusão porque a inserção no mercado é uma questão de cidadania para as pessoas portadoras de deficiências”, concluiu. Conforme o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PcDs), o que representa aproximadamente de 24% da população.